Cidade ou comunidade? O papel da imprensa na construção de um lugar mais justo
Construir uma cidade vai além de levantar prédios, abrir avenidas ou inaugurar obras. É preciso formar uma comunidade. Um coletivo de pessoas que se reconhecem como parte de algo maior, com direitos, deveres e responsabilidades compartilhadas. Mas transformar a cidade em uma comunidade exige um esforço contínuo e coletivo — que envolve moradores, organizações, gestores públicos e, sobretudo, a imprensa.
A imprensa tem uma função que vai muito além de noticiar. Ela cumpre um papel normativo: ilumina o que está à margem, questiona o que é imposto como verdade e tensiona o poder quando este se distancia do interesse público. Em uma cidade que busca ser mais justa, mais plural e mais igualitária, o jornalismo precisa estar a serviço da coletividade — e não de pequenos grupos, famílias políticas ou interesses empresariais.
É nesse ponto que surgem os desafios e os desvios. Há veículos que, ao invés de ecoarem a voz da comunidade, preferem agir como braços de grupos políticos. Abandonam o jornalismo para se tornarem instrumentos de ataque e defesa, conforme os ventos partidários. A isso se soma uma prática nociva: a caça sistemática de reputações, movida não por apuração, mas por conveniência. A consequência é grave: perde-se a confiança, empobrece-se o debate e afasta-se ainda mais a possibilidade de construir um ambiente democrático e saudável.
A imprensa séria não serve a partidos — serve à comunidade. Ela precisa ser o espelho das demandas coletivas, a caixa de ressonância das vozes que muitas vezes não encontram espaço nos corredores do poder. E, por isso mesmo, precisa ser ouvida. Ignorar o jornalismo que atua com responsabilidade é, também, ignorar as necessidades mais urgentes da população.
Autoridades municipais têm o dever de dialogar com a imprensa que questiona, cobra e propõe. Não se constrói comunidade silenciando vozes ou escolhendo quais críticas merecem resposta. Escutar, acolher e considerar o que a imprensa revela é parte do compromisso com a democracia.
Cidade se constrói com obras. Comunidade se constrói com escuta, participação e verdade. E nisso, a imprensa — quando cumpre seu papel com ética e independência — é peça fundamental.