Escassez de equipamentos de proteção coloca em risco agentes de endemias e aumenta casos de dengue
Vitoria da Conquista enfrentou, ao longo de 2024, uma grave crise no combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, e um dos fatores para o registro de altos índices foi à não utilização do larvicida biológico BTI (Bacillus thuringiensis israelensis). O produto, que se mostrou eficaz contra as larvas do mosquito, deixou de ser aplicado em quase todos os municípios baianos devido à alta taxa de intoxicação exógena dos agentes de endemias e à ausência de equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados.
Uma das principais razões para os casos de intoxicação foi o aumento da concentração do BTI, que passou de 300 UTIs para 3.000 UTIs nos últimos anos. Embora a modificação tenha sido feita para aumentar a eficiência no controle das larvas, agentes de endemias relataram sintomas graves de intoxicação durante o manuseio do produto, especialmente em locais onde os EPIs eram inexistentes ou insuficientes.
O Ministério da Saúde começou a utilizar o BTI como substituto ao larvicida, NATULAR, substituto do Themefós, que havia perdido eficácia devido à seleção de resistência dos insetos na forma imatura (larvas). No entanto, a desconfiança entre os agentes em relação à segurança do produto cresceu, especialmente diante da falta de suporte logístico e estrutural para seu uso seguro.
Vitória da Conquista: Um caso alerta

Em Vitória da Conquista, o problema foi particularmente grave. Sem os EPIs necessários, os agentes de endemias ficaram impossibilitados de aplicar o larvicida nos reservatórios de água do município durante grande parte do ano. O resultado foi alarmante: mais de 35 mil pessoas foram diagnosticadas com dengue em 2024, e 36 perderam a vida devido a complicações da doença.
Os altos índices de contaminação da população foram agravados pela introdução de um novo sorotipo do vírus, que começou a circular na cidade no início do ano. A taxa de infestação predial chegou a 5,6%, muito acima do limite de 1% recomendado pelo Ministério da Saúde.
Em resposta à crise, o governo municipal realizou um processo de licitação para adquirir os EPIs necessários. Com isso, a aplicação do larvicida foi retomada no final do ano, mas os esforços para conter a doença enfrentaram o desafio de uma equipe insuficiente: a cidade conta atualmente com apenas 100 agentes de endemias, enquanto seriam necessários pelo menos 243 para atender à demanda.
Perspectivas para 2025
Com o retorno do uso do BTI e a aquisição de EPIs adequados, Vitória da Conquista espera evitar a repetição dos índices alarmantes de 2024. No entanto, especialistas alertam que o sucesso no combate à dengue depende de um esforço coordenado que inclua aumento no número de agentes, educação da população sobre o combate aos criadouros e investimentos contínuos em tecnologia e infraestrutura.
A crise vivida na Bahia em 2024 destaca a importância de planejamento e suporte adequado para políticas de saúde pública. Sem isso, os desafios impostos por doenças como a dengue tendem a se agravar, colocando em risco a saúde de milhares de pessoas.